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´Os governantes não têm a real perceção de que a obesidade é pandemia´

´Os governantes não têm a real perceção de que a obesidade é pandemia´
05 de Março de 2021

No Dia Mundial da Obesidade, a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, alerta para o “desconhecimento, falta de visão ou falta de vontade” dos líderes políticos sobre o problema. “No final, o que fica a faltar é saúde”.


O excesso de peso representa, hoje, 10% das despesas da saúde dos portugueses e as suas doenças associadas podem levar à perda de mais de dois anos de esperança média de vida até 2050. No Dia Mundial da Obesidade, a Ordem dos Nutricionistas alerta para o reforço do setor "para não se correr atrás do prejuízo" e admite que a pandemia, associada ao piorar dos hábitos alimentares e da pouca atividade física, levou a um aumento do peso da população portuguesa.


Alexandra Bento, bastonária da Ordem, relembra que a obesidade atinge mais de 20% da população adulta portuguesa, sendo que o excesso de peso, que inclui obesidade e pré-obesidade, afeta mais de metade da população nacional.


Atualmente, o SNS tem 400 nutricionistas, distribuídos por 100 em unidades de cuidados primários e 300 em hospitais. Para Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, este é um número que "persiste em não aumentar, apesar de ser manifestamente insuficiente".


Segundo rácios definidos pela Ordem, seriam necessários 800 nutricionistas em unidades de cuidados primários e cerca de 150 nutricionistas em hospitais, para um total de 950 profissionais de saúde - mais do dobro dos que estão atualmente no SNS. 


Os concursos são "praticamente inexistentes", adianta à SÁBADO Alexandra Bento, lembrando apenas um concurso de 2018 com 40 vagas para unidades de cuidados primários que está ainda em curso, e que não invalida que sejam abertos novos. A bastonária defende assim novos concursos para evitar "correr atrás do prejuízo".


Para além das razões orçamentais que o Governo alega para a não abertura de concursos, a bastonária aponta que governantes "não têm a real perceção de que a obesidade é doença, é doença crónica, é pandemia". 


"E agora que vivemos um estado de pandemia vimos um conjunto de medidas que tivemos de desenvolver para, e bem, lutarmos contra esta pandemia, só que não conseguimos perceber porque não existe um conjunto de medidas fortes e enérgicas para lutar contra esta outra pandemia que mata imenso, que é a obesidade", alerta Alexandra Bento, apontando para "desconhecimento, falta de visão ou falta de vontade" de líderes políticos. "No final, o que fica a faltar é saúde".



Portugueses pioraram os hábitos alimentares no primeiro confinamento


De acordo com um estudo da DGS relativo ao confinamento de há um ano, 45% dos inquiridos disse ter mudado hábitos alimentares durante o período de confinamento, com quase 42% a admitirem ter sido para pior, e mais de metade diminuiu a atividade física.


Alterações da frequência ou do local de compras dos alimentos (34,3% e 10,6%, respetivamente) e alterações do horário de trabalho (17,6%) foram as razões mais apontadas pelos participantes no "Inquérito nacional sobre hábitos alimentares e atividade física", realizado em parceria com o Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, divulgado em maio do ano passado.


À SÁBADO, a bastonária da Ordem dos Nutricionistas diz que esta questão "prejudica a normalização do peso" e que o aumento do desemprego "tem muita relevância" neste aspecto. "Se temos pessoas que passam a ter uma situação económica mais frágil, prejudica aquilo que são os seus hábitos alimentares", aponta, traçando uma relação direta entre "aquilo que nós temos para nos alimentarmos e a forma como nos alimentamos", indicando que é possível dizer com alguma segurança que, um ano depois do início da pandemia, "poderemos estar a ter um aumento de peso da população portuguesa".


De acordo com o relatório "The Heavy Burden of Obesity – The Economics of Prevention" da OCDE, realizado em 2019, em Portugal, 10% da despesa da saúde é utilizada para o tratamento de doenças relacionadas com excesso de peso, uma percentagem superior à média dos países da OCDE (8,4%). Segundo este estudo, estima-se que, entre 2020 e 2050, o excesso de peso e as doenças associadas possam contribuir para uma diminuição da esperança média de vida em 2,2 anos.


Para comemorar a data do Dia Mundial da Obesidade, o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou, esta quinta-feira, um manual dedicado à alimentação na gravidez, intitulado "Prevenção da obesidade começa na barriga da mãe".


Sobre a iniciativa, Alexandra Bento afirma que a nossa saúde começa até "antes da barriga da mãe". "Os primeiros mil dias de vida, em que já são considerados os dias que a criança esteve na barriga da sua mãe, são determinantes para a sua vida futura", refere, descrevendo o documento como "imensamente importante", mas apenas "mais uma gota no oceano das medidas que é necessário serem tomadas para combater a obesidade".





Fonte: Sábado, online, 04 de março de 2021